Escrever não é sentir o sofrer
é apenas lutar por o esquecer.
Encostá-lo à parede do tempo
destruí-lo, arrasá-lo ao relento.
Ser livre, é vencê-lo então!
Dar-lhe um qualquer destino...
E jamais sentir o coração na prisão,
a matar o pensamento e o tino.
No resvalar do seu fel
Que faz arder a pele,
Dou por ele a fazer doer
por não ser dizível dou-lhe ser.
Esse ser sofrimento,
percorre todo o meu sentimento...
Não pede guarida, é evasivo,
e esmaga-me o querer do pensamento sem aviso
Não é possível falar da dor!
Sem dela ter o seu perfeito conhecimento.
Não é possível falar da dor,
sem se dar urgente ao seu esquecimento
A incompatibilidade é o desespero,
de não pensar nunca a dor.
Rios e rios de sofrimento desperto...
Numa estranha emoção que não sente a dor!
Por mais que tente e tente
Não existem palavras para o sofrer,
Apenas mentiras e imaginação para o preencher
nada o traduz, tudo finge e mente!
Simular a dor é arrancá-la da emoção.
Se ela existir, a palavra é não surgir.
Adormece a mente e cala o coração a fingir,
numa loucura desmedida feita prisão!
Quis idealizar essa fuga,
Da prisão do sofrimento
Percorri chão com ela tão muda.
Essa dor que insistia sempre perto.
Só depois que inventei letras
e umas mil e tal palavras,
é que senti que a venci
entre lacunas de solidão e vazio a esqueci!
Falar da dor assim,
É só tentar torná-la inexistente.
Para poder semear o amor em mim...
E guardar a ilusão que posso falar dela como quem a sente.
Rosamar Freedom
" A dor - nada de mais estranho ao pensamento. Sofre-se e isso impede de pensar. Pensa-se a dor e já não é dor( ... ). Entre a emoção e o pensamento há uma espécie de incompatibilidade. Entre a dor e o pensamento, a incompatibilidade é extrema " , Autor ; Eduardo Prado Coelho