O espelho da alma
Aqui neste lugar que vogo de modo livre; e nessa libertação que vou cultivando e colhendo em cada silaba que me desprende e me traz à minha superfície cristalina e limpída em profunda transparência.
Entrelaço-me, debato-me, desprendida de muitos medos que perdem significado e se esfumam na névoa do solitário horizonte.
Não são as palavras que utilizo que me seduzem, mas sim a sua respiração, o seu coração, o seu sentimento, porque elas existem e sobrevivem autonomamente, são totalmente independentes, por isso me seduzem e me libertam.
Mantenho um sonho, do qual não desisto, quase uma razão de viver, acima de tudo um sonho guardado para sempre,
do qual eu vivo na esperança.
Nessa secreta esperança vou colhendo a seiva do respiro
da vida, o meu mundo ideal, que vou relembrando e esquecendo, que renasce e adormece, sem nunca morrer.Um mundo por imaginar e construir, um silêncio tão grandioso e deslumbrante que acende e reacende todas as verdades, a imensa multiplicidade que diverge e converge num elo de um paraíso chamado vida.
Amanhece, tudo é diferente de ontem, neste meu sonho que vou lembrando, é dia, um movimento que se inicia com o sol e a claridade que emerge nas sombras que se desenham por tantos seres. Pelas árvores que demarcam os seus contornos nos passeios, nas estradas, na terra que parece intacta.Nas casas baixas e seus telhados, suas chaminés e águas furtadas
escondidas, ignoradas e tristes.Pelas pessoas que paradas ou em movimento perpétuo e repetitivo demarcam a conformidade das suas sombras, que se desenham no chão, nas paredes e nos muros, que vão simulando corpos animados de vida e de uma resistência ao abismo da noite, sem luz natural, apenas a solidão do bréu!
Mas neste mundo que vou construindo e guardando, tudo é possível, numa persistência inteiramente nova. Calada na sua permanência imprecisa e dialogante, encetei sem hesitar num apelo encorajador para a maior construção da minha imaginação tão fiel e persistente em eternizar o meu sonho guardado em mim que não quer, nem deseja deixar de se comunicar e desvendar.
Como um enigmático mistério, um segredo por traduzir, que vive inependente em cada fonema construído.
Nesta saraiva, neste granizo, que forma pequenas particulas de gelo tão branco e puro, vou deixando que a minha alma vogue e semei rimas que me trazem emarenhada em poética e origem.Não é ilusão, é a impressão do meu ser que pousa nesta catarse que impede à submissão de tudo o que existe, que eu sei, e que eu não sei.
Por vezes e tantas vezes que desejo a entrega do seu método, às suas regras, ao seu oficio metódico estudado e regular.Sentiria assim alguma paz neste " inferno " do meu ser indomável e sensível. Incapaz de me entregar a essa paz e regularidade, vou invejando a sua perfeição e as suas capacidades que me parecem mais coragem do que cobardia.